O sentimento é de desespero, diz Juliana Aparecida de Jesus, de 22 anos. Ela mora com o marido e a filha de oito meses na ocupação Porto Príncipe, em São Paulo, desde 28 de novembro. Grávida novamente, alugara uma casa no distrito de guaianases, por dois meses, mas ficou impossível continuar ali depois do fim do auxílio emergencial e da piora da crise sanitária. Tem vivido da renda que seu esposo arrecada com a venda de água e carregadores no farol, cerca de 30 reais por dia. Também enfrenta uma ameaça de despejo. “Não tenho onde ficar”, diz, com medo de uma ordem de expulsão pela Justiça. Também lhe aflige um eventual contágio pela Covid-19, por ser asmática.
Juliana chegou à ocupação no mesmo dia que a pernambucana Joselma Alves de Oliveira, de 44 anos, mãe solo de um menino de nove. Moradora de São Paulo desde seus 14 anos de idade, Joselma trabalhava como costureira em uma empresa têxtil, mas foi demitida e perdeu uma renda fixa de 1,2 mil reais mensais. Hoje, tem tirado 400 reais por mês comercializando lanches e refrigerantes informalmente, além do benefício de 150 reais concedido pelo governo. Sem parentes na cidade, não lhe sobra nenhuma outra alternativa de moradia. “Não sei para onde ir se nós sairmos daqui”.
Das cerca de 350 famílias que habitam o imóvel, a maioria trabalha na informalidade. Mais da metade são imigrantes latino-americanos, especialmente haitianos. Pelo menos 20 mulheres estão grávidas.
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