Um ano do crime socioambiental da Vale em Brumadinho, Minas Gerais, a cidade não dá sinais de que a tragédia tenha sido superada. Ainda é a imagem das casas soterradas pela lama de rejeitos da barragem da mineradora que toma conta da lembrança dos familiares das 270 vítimas fatais, dos 11 desaparecidos, de uma cidade inteira e do rio Paraopeba, contaminado desde então. Na conta dos atingidos, 272 perderam a vida, já que entre os mortos há duas gestantes.

É neste município onde a agricultura foi inviabiliza, o abastecimento de água prejudicado e parte de sua história devastada, que a população viu a chegada deste sábado, envolta ainda de luto, dor e revolta.

“É uma data que nós não podemos deixar se esquecida, porque a Vale considerou isso como uma fatalidade, e não é uma fatalidade, é o caso de uma grande mineradora que coloca o lucro acima da vida, e que coloca a vida das pessoas como se fossem simplesmente objetos, coisas, considerando a vida das pessoas como custo”. A indignação do agrônomo e mestre em energia pela Universidade Federal do ABC Gilberto Cervinski, reflete o peso dos relatos que ele conhece por conta de sua atuação como integrante da coordenação nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).

Há anos, em decorrência desses crimes socioambientais, o MAB vem denunciando a omissão da Vale em atuar sobre as consequências devastadoras posteriores à tragédia. De acordo com Cervinski, em Mariana, por exemplo, –  que também teve uma barragem rompida, matando 19 pessoas e devastando a bacia do rio Doce – até hoje, a Samarco, controlada tanto pela Vale como pela BHP Billiton, quatro anos depois do crime, não reconstruiu a moradia de parte das vítimas, que pagam desde então aluguel.

“A Vale tem 10% de Belo Monte, a maior hidrelétrica brasileira foi construída em quatro anos e não consegue construir uma casa em quatro anos para as famílias que ela destruiu? Isso é decisão política, decisão de uma empresa que não quer resolver os problemas das populações que foram atingidas por um crime que ela cometeu. A injustiça é muito grande, que não afeta só quem mora ao longo da bacia, mas todo mundo. Quem está pagando o aumento dos custos do SUS é toda a população”, contesta.

Controlada por bancos mundiais e nacionais, como o Bradesco, além de fundos de pensões, como mostra artigo do Brasil de Fato,  Cervinski não deixa de associar a falta de reparação com a omissão na segurança das barragens, tudo em nome do lucro. “Esses fundos eles exigem da Vale a arremessa a taxa máxima de lucros e a arremessa de dividendos. E a barragem, a solução das famílias, são custos, então eles exigem que não se gastem. Então a estratégia deles é não gastar, é dar tempo ao tempo para fazer as famílias abandonarem a luta pelos seus direitos no cansaço”.

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