Na manhã do dia 24 de janeiro, quando o rio das Velhas começou a encher com um forte temporal, o pedreiro Nangir Antônio Pereira, 48, duvidou que ele transbordaria. “A gente não precipitou em correr porque nunca tinha acontecido desse jeito. À noite, quando a água subiu de uma vez, só deu tempo da gente sair de casa, sem levar nada. Só deu para pegar os documentos”, lembra o morador do bairro Paciência, em Sabará. Naquele dia, caiu sobre a região metropolitana a maior chuva da história. Entre desabamentos e casas alagadas, o rastro de destruição também bateu recorde.

Na avaliação do professor Robson Gonçalves, da Fundação Getulio Vargas (FGV), existe uma relação direta entre a catástrofe e o déficit habitacional. “Nenhuma cidade do mundo estaria preparada para o volume de chuvas que caiu em Minas, mas, se houvesse mais investimento em políticas habitacionais, a dimensão da tragédia seria menor. Em fortes chuvas, os domicílios em condição de vulnerabilidade tendem a ser mais danificados. Com política para reduzir essa vulnerabilidade, seriam menos pessoas em áreas de risco”, destaca Gonçalves.

Até agora, juntando os recursos destinados pelos governos estadual e federal para reparar os estragos, são estimados R$ 697,7 milhões – considerando que os R$ 892 milhões do socorro anunciado pela União serão distribuídos proporcionalmente ao número de desabrigados e desalojados. Esse valor é a metade do total necessário (R$ 1,33 bilhão) para construir moradias dignas para as 13,3 mil famílias mineiras que, depois daquela chuva, não tem para onde voltar. Sem falar da dor de quem nunca mais verá um parente: 59 morreram.

O cálculo para construção das moradias considera famílias com, em média, quatro pessoas. Segundo a Defesa Civil de Minas Gerais, são 53,5 mil desabrigados e desalojados no Estado. Também leva em conta o valor de mercado da construção de uma unidade popular. “Considerando o imóvel e parte da infraestrutura necessária, como a fundação, estimamos um custo médio de R$ 100 mil por unidade”, afirma o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon-MG), Geraldo Linhares Júnior.

“Esse cálculo dá a ordem de grandeza do pior cenário que podemos imaginar, que é o quanto custaria a reconstrução dessa tragédia, se as casas de todos os afetados tivesse que ser construídas do zero. Mas temos que lembrar que, além das moradias, essas pessoas perderam praticamente tudo. E existem estudos que calculam que os bens acumulados valem um terço do valor do imóvel”, explica Gonçalves, responsável pelo estudo do déficit habitacional do país. Acrescentando todas as perdas materiais, o custo sobe para R$ 1,78 bilhão.

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