Em meio à pandemia do coronavírus, infelizmente, já era previsível que as maiores taxas de mortalidades se concentraria nos bairros mais pobres da região central e intermediária da cidade de São Paulo, onde há alta incidência de moradias precárias em cortiços. Além do grave problema da desigualdade social e habitacional que atinge grande parcela da população na região central, a pandemia escancara, de forma cruel, uma alta taxa de letalidade; vale apontar que, no centro da cidade, há um grande número de pessoas em situação de rua que apresentam elevado risco de morte pela Covid 19.

Embora precários, desde o final do XIX os cortiços destacam-se como a mais antiga alternativa habitacional dos trabalhadores na cidade de São Paulo. Sua exploração indevida sempre possibilitou lucros elevados aos intermediários que lucram cobrando aluguel de milhares de pessoas que se amontoam em imóveis degradados ou caindo aos pedaços; nesses espaços, há um único banheiro, tanque e chuveiro para dezenas de pessoas, cômodos insalubres e sem janelas, corredores estreitos e sufocantes.

Quando chamados para solucionar algum sério problema de saúde pública, historicamente, os órgãos públicos quase sempre transformaram os locais de moradia dos pobres e os cortiços em alvo de remoção ou expulsão.

Desde o início do século XX, sob alegação que essas moradias eram locais de propagação de surtos de doenças, a cidade de São Paulo passou por um processo de higienização e embelezamento, expulsando milhares de pessoas de moradias coletivas.

Outra tentativa de “modernização” por meio de práticas higienistas aconteceu a partir de 2017 – e ainda está em curso – com a implantação da Parceria Público e Privado (PPP) do Centro, região conhecida como “Cracolândia”. Nessa localidade, a Prefeitura agiu sem autorização legal e chegou a demolir paredes em cima dos moradores, ferindo e expulsando-os do local.

A concentração das mortes por Covid-19 na região central está diretamente associada à precariedade da moradia. Se algum morador do cortiço se contamina, é questão de tempo para que todos os demais também se contaminem. Dado que há ausência de recursos e de estrutura para cumprir o isolamento, acessar serviços de saúde de qualidade e manter a alimentação, a possibilidade de cura é quase nula.

É temerário que a pandemia do coronavírus seja utilizada para novas ações de criminalização, higienismo e interesse imobiliário, ao invés de solução habitacional aos moradores de cortiços.

A concentração das mortes por Covid-19 na região central está diretamente associada à precariedade da moradia. Se algum morador do cortiço se contamina, é questão de tempo para que todos os demais também se contaminem. Dado que há ausência de recursos e de estrutura para cumprir o isolamento, acessar serviços de saúde de qualidade e manter a alimentação, a possibilidade de cura é quase nula.

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