Nos canteiros e jardins, barracas de plástico. Nas esquinas e debaixo de marquises, cobertores e papelões. Os “lares improvisados” têm sido vistos com maior frequência nos arredores de Belo Horizonte e região metropolitana. Eles estão ali, em áreas bem centrais, como um lembrete de que o encarecimento do aluguel, a falta de oportunidades, o aumento do custo de vida e a dificuldade de acesso à renda não estão restritos às áreas periféricas. Se para as camadas economicamente mais sensíveis o que restou foi o relento, para a classe média a coabitação avança e justifica parte da alta de 30% no déficit habitacional de Minas Gerais em seis anos, entre 2016 e 2022, conforme dados da Fundação João Pinheiro (FJP), divulgados neste ano. O déficit de 556,68 mil unidades habitacionais de Minas significa que famílias de diferentes classes sociais, origens e histórias vivem em habitações precárias, pelas ruas, dividem moradia ou gastam boa parte da renda com pagamento do aluguel.
O crescimento de 30% do déficit nas cidades mineiras foi o maior do Sudeste e fez o Estado saltar da terceira posição para a segunda entre as unidades federativas com maior déficit habitacional do país, ultrapassando o Rio de Janeiro. São Paulo segue na liderança. No Brasil, o indicador cresceu 9,86%, passando de 5,65 milhões para 6,21 milhões. Ou seja, o déficit em Minas cresceu três vezes acima da média nacional.
Apesar de servirem como uma referência importante do quadro de déficit habitacional, os números levantados pela Fundação João Pinheiro deixam de fora outro dado relevante para medir o problema da moradia no país: o número de pessoas em situação de rua.
Em Minas Gerais, a quantidade de pessoas que vivem nas ruas quase triplicou de 2016 a 2022, ao passar de 8.718 para 25.927, segundo o Ministério dos Direitos Humanos. Dessas, 11.826 estão em BH. Na capital, 24,58% delas foram para a rua por causa de perda da moradia. “Parte dessa situação é reflexo da crise após a pandemia”, diz a gerente de incidência em políticas públicas da Habitat Brasil, Raquel Ludermir.
Foto: retirada da reportagem.