Enquanto o mundo prepara os holofotes para a COP30 em Belém — promovida como a “COP das Florestas” —, um drama silencioso se desenrola nas periferias da cidade. Rosângela da Silva, de 49 anos, viu as duas décadas de história da sua casa, no bairro do Guamá, se desfazerem em pouco tempo. Após aceitar ser removida, ela teve dois meses para receber a indenização e a família teve cinco dias para desocupar o imóvel e, então, em poucas horas, a casa veio ao chão. Ela é uma das centenas de chefes de família que estão sendo removidos por obras de infraestrutura conduzidas pela Secretaria de Estado de Obras Públicas (Seop).
A justificativa do governo é que famílias que vivem há décadas em áreas de risco para enchentes e inundações precisam sair desses locais. Contudo, os moradores denunciam que estão sendo despejados à força, sem condições dignas de realocação, e jogadas em novos territórios que também têm vulnerabilidade.
Para quem mora há décadas nas margens de canais como o Caraparu, Tucunduba e Lago Verde, o risco de enchentes e inundações não é novidade: alagamentos frequentes, ruas que somem na maré alta e a convivência com a lama são parte do cotidiano de quem construiu a vida em casas erguidas com o próprio esforço nas margens dos canais.
A proposta do governo é reformar esses canais para fazer a grande drenagem da bacia do rio Tucunduba, que corta Belém. Mas a macrodrenagem, agora anunciada como parte do pacote de intervenções que compõem o legado da COP30, não é uma obra nova. Iniciada há quase 30 anos, ela é uma história de promessas, paralisações e retomadas fragmentadas que, década após década, adiaram a solução para as enchentes crônicas na região. A fase atual prevê intervenções em 11 canais que cortam seis bairros de Belém.
Foto: retirada da reportagem.
Fonte: Lupa