Nos dias mais quentes, São Paulo apresenta realidades térmicas contrastantes. Nos bairros arborizados e de alto padrão, o calor pode ser incômodo, mas é aliviado por ruas sombreadas, áreas de lazer ou a simples possibilidade de se refugiar em ambientes refrigerados. Nas favelas mais densas, ao contrário, o vento mal circula entre vielas estreitas e construções sobrepostas, onde dificilmente sobra espaço para ao menos uma árvore. Para milhões de moradores, o verão não representa apenas desconforto, mas uma batalha diária para dormir, trabalhar e estudar, com impactos severos sobre a saúde.

A OMS (Organização Mundial da Saúde) alerta que temperaturas superiores a 40 °C representam risco grave, sobretudo para idosos, crianças e pessoas com doenças cardiovasculares e respiratórias, que são particularmente vulneráveis à desidratação, insolação e agravamento de enfermidades crônicas. Além dos efeitos na saúde, o aumento de gastos com energia elétrica, decorrente de ventiladores ligados e geladeiras sobrecarregadas, pesa no orçamento de famílias que já vivem no limite.

O calor não se distribui ao acaso: segue a lógica da exclusão urbana. Bairros consolidados e bem equipados, com praças, jardins e avenidas arborizadas, permanecem mais frescos. No outro extremo, encontram-se áreas periféricas com grande concentração de favelas, que estão mais expostas ao calor extremo. Em Capão Redondo, distrito densamente ocupado da zona sudoeste, estão quatro das dez favelas mais quentes da cidade (ver gráfico), com registros de até 48°C.

O desafio não é apenas técnico, mas político. Incluir o calor como dimensão da inadequação habitacional significa reconhecer que a exclusão urbana também se mede em graus Celsius. Ignorar essa realidade é perpetuar desigualdades, ao passo que enfrentá-la é abrir caminho para políticas habitacionais que não se limitem a erguer novas moradias, mas assegurem condições reais de habitabilidade em cidades cada vez mais quentes.

Fonte: retirada da reportagem.

Fonte: Nexo

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