A comunidade de Paraíso, em Felixlândia, amanheceu ontem (3/9) com o baque de uma dura ação do Ministério Público Federal (MPF), coordenada com a Polícia Federal, a Polícia Militar de Minas Gerais e a Cemig Geração e Transmissão S.A (responsável pela manutenção da área). Logo cedo, autoridades chegaram ao local com veículos e equipamentos para realizar a derrubada dos ranchos, situados às margens da Represa de Três Marias.
A alegação que consta na notificação do MPF é de que as construções são consideradas irregulares e configuram um crime ambiental, dado que foram feitas em Área de Preservação Permanente, terreno pertencente à União. No entanto, o processo foi conduzido sem transparência e com truculência.
Segundo os moradores, não houve nenhuma notificação prévia de que a operação aconteceria e quem não estava no imóvel no momento do início sequer teve oportunidade entrar na comunidade e tirar os seus pertences dos ranchos. A passagem de profissionais do Guaicuy e da imprensa também não foi autorizada.
Cerca de 30 pescadores foram profundamente impactados pela ação, que destruiu moradias e danificou materiais de trabalho necessários para a subsistência. Uma delas, que preferiu não se identificar, reside na região há 15 anos. Ela conta que foi impedida de entrar em casa até mesmo para pegar seu remédio de uso contínuo e precisou de uma doação para se medicar. Cabe relembrar que essas pessoas já sofrem há quase 7 anos com os impactos do rompimento da barragem da Vale e a demora na reparação dos danos.
Considerando a arbitrariedade e gravidade da situação, o Guaicuy tem tentado auxiliar nesse processo, entrando em contato com órgãos como o MPF, a Coordenadoria de Inclusão e Mobilização Sociais do Ministério Público de Minas Gerais, o Movimento dos Atingidos por Barragens, o Ministério do Desenvolvimento Agrário e com parlamentares para questionar o procedimento e articular apoio.
Após a mobilização da comunidade, a continuidade da operação foi suspensa hoje (4/9), mas ainda aguardamos informações sobre novos desdobramentos. Enquanto isso, muita gente precisa lidar com os estragos irreversíveis dos despejos realizados ontem.
Foto: retirada da reportagem.
Fonte: Instituto Guaicuy